Estatísticas de Danos a
Cargas Defeitos em tampas de escotilhas de navios podem levar a enormes perdas
comerciais para todas as partes envolvidas numa viagem marítima.
Os Clubes de P&I
(grupos de seguros mútuos de armadores e afretadores de embarcações) e
Seguradores de Cargas têm ao longo dos anos acumulado enormes prejuízos por
danos às cargas transportadas por navios.
Segundo estatísticas
publicadas pelo The London P&I, os danos à carga causados por vazamento das
tampas de escotilha correspondem a 33% de todos os danos registrados nos navios
de seus Membros nos anos 2000, representando milhões de dólares em
indenizações.
Estatística das Causas de
Grandes Danos à Carga em Navios de Carga Seca
- Vazamentos nas Tampas de Escotilha 33%
- Problemas pré-existentes na Carga 20%
- Erro Humano 18%
- Problemas de Máquinas 11%
- Problemas de Estivagem no Navio 8%
- Falha Estrutural 5%
- Defeito em Tubulação Dentro do Porão 5%
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Gráfico 1 - Causas de Grandes Danos à Carga em Navios de Carga Seca (The London P&I) |
Elementos Construtivos e
Princípio Básico da Vedação das Tampas de Escotilha.
A construção e os
acessórios variam em
cada tipo de tampa, mas, no que tange à prevenção da entrada de água em um porão, todos os tipos seguem em geral os mesmos princípios básicos.
cada tipo de tampa, mas, no que tange à prevenção da entrada de água em um porão, todos os tipos seguem em geral os mesmos princípios básicos.

Para realizar a vedação
da escotilha, a borracha de vedação do painel é comprimida pelo contato com a
barra de compressão da parte superior da braçola da escotilha.
Atracadores são colocados
na periferia da braçola de modo a manterem a compressão e restringirem o movimento
da tampa durante a viagem marítima. As braçolas têm um sistema de dupla
drenagem da água que porventura ultrapassar o sistema de vedação borracha-barra
de compressão. Internamente há um canal de drenagem que faz a água escorrer
para as quinas à vante ou à ré, por onde será drenada para fora do porão
através de válvulas de retenção.
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Figura 1 – Desenho esquemático do sistema de vedação e drenagem de tampas de escotilha (Fonte: Holds & Hatch Covers – Keith Taylor - The London P&I) |
Não encontrar defeitos na
inspeção visual, no entanto, não nos dá garantia de que a
tampa de escotilha está
estanque ao tempo. Portanto, a inspeção visual deve ser complementada com algum
teste de estanqueidade.
Métodos Tradicionais de
Teste de Estanqueidade
Teste
com Verificação de Passagem de Luz
É o método mais simples e
não requer nenhum equipamento especial. Com as tampas fechadas o inspetor entra
no porão e observa se há alguma entrada de luz através da estrutura dos painéis
(por furo ou fratura), folgas entre painéis e falta de contato nas vedações
entre braçola e tampa.
Não é muito confiável,
pois pode acontecer de um contato leve entre borracha e barra de compressão não
permitir passagem de luz, mas permitir passagem de água.
Teste
com Massa
Neste teste, as borrachas
são retiradas e o canal é preenchido com massa de modelar. Quando se fecha o
porão, a barra de compressão marca a massa de tal modo que se pode ver pela
profundidade da marca, o nível de compressão que a borracha estará sujeita.
Esse teste não é usado em
um navio que esteja em operação normal, mas, somente, por estaleiros ou
oficinas especializadas em tampas de escotilha para checar compressão e
alinhamento de tampas após reparos ou comissionamento.
Teste
com Ar Comprimido
Pode ser feito em
pequenos porões, por isso é pouco utilizado. O compartimento é pressurizado com
ar comprimido e as juntas de vedação são checadas com solução de sabão. Bolhas
de sabão indicarão a posição de pontos onde há vazamento.
Despende-se muito tempo
para pressurizar o porão e é difícil aplicar o sabão e verificar vazamento em
pontos de difícil acesso.
Teste
com Fumaça
O tampa de escotilha é
fechada, bem como as entradas de ventilações do porão. A geração de fumaça, que
pode ser um tambor queimando trapos e querosene, é então, iniciada dentro do
porão e observa-se se haverá passagem de fumaça pelas juntas de vedação.
É um teste primitivo e
bastante insalubre para os executantes. Pequenos vazamentos são difíceis de
detectar com esse tipo de teste.
Teste
de Contato com Giz (Chalk Test)
Barras de giz são
passadas nas barras de compressão, a tampa de escotilha é fechada e os
atracadores colocados. Em seguida se abre
a tampa e se verifica se as marcas nas borrachas de vedação são contínuas.
Este teste se usa,
principalmente, para checar o alinhamento dos painéis da tampa de
escotilha, ou quando é
impossível se fazer teste com água ou com ultrassom. Suas principais
desvantagens são o tempo excessivo para realização e o fato de indicar, somente,
se há contato entre barra de compressão e borracha e não se há boa compressão
entre elas.
Teste
com Mangueira / Jato de Água (Hose Test)
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Foto 6 – Teste com Mangueira (Hose Test) |
É feita, geralmente, com
a bomba de incêndio do navio pressurizando a rede do convés principal. Durante
a aplicação do jato de água, deve-se checar se há saída de água pelas válvulas de
dreno da braçola e se há ingresso de água dentro do porão. É o método mais
difundido e é usado, principalmente, pelas Sociedades Classificadoras para
checar estanqueidade com o objetivo de certificação estatutária de Borda Livre.
Dá uma boa indicação
sobre o contato das juntas de vedação, mas não se consegue ver a exata posição
do ponto de vazamento. Consome bastante tempo, requer auxilio e boa vontade da
tripulação e, no caso de apenas um inspetor estar atuando, requer, também,
honestidade da tripulação que deve aplicar o jato nas juntas de vedação
enquanto o inspetor estiver checando vazamentos no interior do porão.
Alguns portos impõem
restrições à realização deste teste com o navio atracado, pois há risco da água
escorrer pelo convés, carregando sujeira e despejando-a no cais. Não pode ser
feito caso o porão já esteja carregado com carga que se danifique, caso haja
vazamento. É impossível realizá-lo em regiões onde a temperatura esteja abaixo
de zero.
Teste
de Tampas de Escotilhas Utilizando Detector de Ultrassom
Introdução Este teste
requer um equipamento de ultrassom que consiste em um transmissor que é
colocado dentro do porão do navio emitindo sinais de ultrassom em várias
direções e um receptor que ao ser ligado fora do porão captará os sinais
emitidos pelo transmissor em caso de descontinuidades de compressão nas juntas
de vedação, vazamento, furo, etc.
Nos anos 80, a indústria
automobilística europeia começou a utilizar o teste de ultrassom para medir
estanqueidade em veículos top de linha, visando redução de ruídos e verificação
da estanqueidade de vidros, portas e tampas dos veículos. Por analogia, no
início dos anos 90, um sistema similar mais potente começou a ser desenvolvido
para testes de estanqueidade de tampas de escotilha de navios pela empresa
belga SDT. Os primeiros aparelhos e resultados de testes foram aceitos pela
indústria de navegação europeia em 2001. Hoje em dia, este é o método preferido
por todos os Clubes de P&I.
Procedimento
do Teste
Passo
1: O transmissor é
colocado no piso do porão, de preferência sob o centro geométrico da tampa de
escotilha.
Passo
2: O transmissor é
ligado e começa a emitir os sinais de ultrassom.
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Figura 2 – Transmissor de sinal de ultrassom colocado no piso do porão do navio (Fonte: SDT-The Nautical Institute) |
Passo
4: O porão é fechado
e são colocados os atracadores nos painéis da tampa de escotilha como que
preparando para a viagem marítima.
Passo
5: O sensor do
detector/receptor é passado na região das juntas de vedação onde, caso esteja
com boa vedação/compressão, serão detectados, somente, sinais inferiores a 10%
do OHV emitido pelo transmissor colocado dentro do porão.
Passo
6: Somente as
leituras obtidas acima de 10% do OHV podem ser consideradas vazamento. Nestas
posições, a perda de compressão é tamanha a ponto de que a borracha não
conseguirá compensar os movimentos do navio enquanto navegando e permitirá a
entrada de água que embarque no convés durante o mau tempo.
Passo
7: Os pontos onde os
vazamentos foram encontrados e os valores obtidos são plotados num desenho
esquemático da tampa e anexados a um relatório de inspeção a ser entregue às
partes envolvidas.
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Figura 3 – Tampa de escotilha é checada externamente com detector de ultrassom (Fonte: SDT-The Nautical Institute) |
Vantagens e Desvantagens
deste Tipo de Teste
Como vantagens principais
podemos citar:
• Este teste pode ser
feito muito mais rapidamente do que qualquer um dos outros citados
anteriormente.
• Pode ser feito mesmo
que o porão esteja parcialmente carregado, pois não há risco de danificar a
carga.
• Permite que se detecte
exatamente onde está a falta de compressão ou ponto de vazamento.
• Pode ser feito em
qualquer condição de tempo, mesmo em regiões com temperaturas abaixo de zero.
Como desvantagens podemos citar:
• Requer um aparelho
especial de teste que, ainda, tem um alto custo.
• Apesar de não ser de
difícil operação, ainda, requer operador treinado e apto a interpretar os
resultados das leituras obtidas.
Comentários Finais
Tampas de escotilhas,
apesar de na maioria das vezes serem objetos pesados, requerem cuidados
especiais e ajustes milimétricos para que continuem mantendo sua estanqueidade
ao tempo e operacionalidade com segurança. Cada parte de sua estrutura e cada
elemento acessório contribui de alguma forma para a manutenção da estanqueidade
e, portanto, merece atenção e inclusão no sistema de inspeção e manutenção
planejada do navio.
A realização de inspeções
regulares e testes de estanqueidade de tampas de escotilha previnem eventuais
acidentes, riscos à navegabilidade do navio, danos à carga e potenciais
indenizações envolvendo milhares de dólares.
O método de teste por
ultrassom tem cada vez ganho aceitação no mercado e já existem Clubes de
P&I, como é o caso do American Club, que já não mais aceita outro tipo de
teste como prova de estanqueidade das tampas de escotilha dos navios de seus
Membros. Na opinião deste autor, com a progressiva redução do custo do
equipamento de teste e com a maior divulgação do método, haverá uma forte
tendência para que em poucos anos a grande maioria das entidades envolvidas no
comércio marítimo, também, elejam o método de Teste de
Estanqueidade por
Ultrassom como a maneira ideal de comprovação da estanqueidade de tampas de
escotilha.
Material apresentado no 24o. Congresso Nacional de Transporte Aquaviário, Construção Naval e Offshore. Para ler na íntegra, clique no link:
http://www.ipinamericas.org/sites/ba_viejo/downloads/sobena/estructuras/TF036.pdf
http://www.ipinamericas.org/sites/ba_viejo/downloads/sobena/estructuras/TF036.pdf
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